1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
Cultura

Campo do Tarrafal em obras para se candidatar à UNESCO

Lusa
28 de fevereiro de 2020

Durante 8 meses, haverá obras de reabilitação no antigo Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, para repor a autenticidade do espaço, passo considerado essencial para a candidatura a Património da Humanidade.

Konzentrationslager Tarrafal
Foto: DW/Madalena Sampaio

A assinatura da consignação da empreitada foi feita quinta-feira (27.02), no antigo campo de concentração, pelo Ministério da Cultura e Indústrias Criativas, à construtora Vilacelos, empresa com sede em Barcelos, Portugal, através da sucursal em Cabo Verde.

No local, o ministro da Cultura, Abraão Vicente, explicou que obra, de 29,5 milhões de escudos (265 mil euros) visa um dos requisitos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para a candidatura a Património da Humanidade que o Governo cabo-verdiano pretende apresentar dentro de um ano: "Cumprir com esse critério da classificação, que é a autenticidade do espaço".

De acordo com informações disponibilizadas no local, o investimento implica a substituição de telhados das antigas celas comuns e pavilhões, e a criação de um percurso pelo interior do antigo campo de concentração, levando ao reforço da componente de museu, entre outros trabalhos.

O projeto da intervenção foi preparado pelo Instituto do Património Cultural, mas o seu presidente, Hamilton Jair Fernandes, que esteve no local, não prestou declarações aos jornalistas.

"Transformar um espaço triste num local de orgulho"

O ministro da Cultura destacou que o objetivo da obra de reabilitação e da candidatura à UNESCO passa por "transformar um espaço que era triste e que devia envergonhar" num local de "orgulho", desde logo para a população do Tarrafal.

Abraão Vicente afirmou também que é necessário "ficar em paz" com aquele local, por exemplo na tarefa de, com as famílias, decidir sobre os restos mortais dos então prisioneiros que ficaram no Tarrafal.

Apelidado de "campo da morte lenta", o Tarrafal recebeu mais de 500 pessoas, entre 340 antifascistas e 230 anticolonialistas. Destes, 34 morreram no local.

Pedro Martins, o prisioneiro mais jovem do Tarrafal

10:55

This browser does not support the video element.

Além da empreitada hoje lançada, o ministro da Cultura acrescentou que estão previstos mais 22 milhões de escudos (200 mil euros) de verbas públicas para a instalação e funcionamento do museu na antiga colónia penal, adiantando que o artista português Vhils será convidado para fazer um trabalho no local.

Todo este processo deverá ainda envolver as populações que se foram instalando nas imediações, após o seu encerramento: "Tornar num museu vivo e as pessoas como contadores da história", explicou Abraão Vicente, apontando desta forma outro dos requisitos da UNESCO para a classificação como Património da Humanidade.

Campo da morte lenta

Situado na localidade de Chão Bom, o antigo Campo de Concentração do Tarrafal foi construído no ano de 1936 e recebeu os primeiros 152 presos políticos em 29 de outubro do mesmo ano, tendo funcionado até 1956. 

Em 1962, foi reaberto com o nome de "Campo de Trabalho de Chão Bom", destinado a encarcerar os anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde. 

Após a sua desativação, o complexo funcionou como centro de instrução militar, escola e desde 2000 alberga o Museu de Resistência, transformando-se, entretanto, no museu mais visitado de Cabo Verde.

O levantamento para o concurso público da empreitada de reabilitação recorda que o espaço ficou "gravado na memória" dos portugueses, angolanos, guineenses e cabo-verdianos como o "campo da morte lenta" ou "da morte".

O espaço foi classificado Património Cultural Nacional através da Resolução n.º 33/2006, de 14 de agosto, e desde 2004 que integra a lista indicativa de Cabo Verde a património da UNESCO.