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Partidos angolanos enfrentam casos de contestação interna

José Adalberto
8 de junho de 2023

Os principais partidos políticos em Angola estão a enfrentar movimentos internos de contestação. Um politólogo, ouvido pela DW, diz que isso deve-se à falta de cultura democrática no seio das formações políticas.

Angola I Wahlen
Foto: D. Vasconcelos/DW

Em Angola, as lideranças dos principais partidos políticos estão a encarar movimentos internos de contestação. Do MPLA, passando pela UNITA, até chegar ao PRS, o debate gira à volta dos grupos de pressão ou oposição interna. Os partidos negam, mas politólogo ouvido pela DW falam em falta de cultura democrática nas formações políticas.

O tema é recorrente nos corredores partidários, mas nem sempre é encarado com a mesma relevância pelas lideranças: há movimentos de oposição interna nos partidos.

As divergências de visões sobre vários temas do país, quer do ponto de vista ideológico ou estratégico, aliadas à falta de espaço de debate interno são apontadas como alguns dos fatores que têm propiciado o surgimento dos chamados "grupos de reflexão interna".

João Lourenço enfrenta alguma constestação interna no seio do seu partidoFoto: Braima Daramé/DW

MPLA: Contestação dos "marimbondos"

O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) vive, atualmente, o dilema dos chamados "marimbondos" – um grupo que supostamente está mais alinhado à visão política do ex-Presidente da República José Eduardo dos Santos.

Aos "marimbondos" são apontadas ações contrárias à estratégia governativa do atual Executivo, sobretudo no domínio económico e no combate à corrupção.

Adalberto Costa Júnior (à esquerda) não é completamente livre de contestação, dentro da UNITAFoto: Borralho Ndomba/DW

UNITA: "Quinta coluna" em marcha contra ACJ

Na União para a Independência Total de Angola (UNITA), o cenário não é diferente. Adalberto Costa Júnior (ACJ), atual líder do partido, é alvo de contestação interna por um grupo de militantes, apelidados pela atual direção de "quinta coluna".

Demétrio Tulumba, ex-membro da Comissão Política e do Comité Permanente da UNITA, faz parte do grupo de militantes que contestam a liderança de Adalberto Costa Júnior. O dirigente que já desempenhou várias funções de relevo na UNITA diz que se vive um clima de perseguição interna.

"Neste preciso momento, o número é muito elevado de pessoas que estão a ser escorraçadas só pelo facto de pensarem diferente. Ao pensarem diferente, estão a ser preteridas. É a razão da nossa resistência a este ato ignóbil de se preterirem pessoas com um curriculum invejável, com muito tempo de militância, só por pensarem diferente", relata.

No entanto, Joaquim Nafoia, deputado e membro do Comité Permanente da UNITA, nega a existência de um grupo que contesta a atual liderança do partido.

"No caso da UNITA, por aquilo que eu conheço, não existe nenhum grupo de reflexão. O que acontece é que, nalgumas vezes, há cidadãos que desrespeitam os estatutos e quando são sancionados vão para a rua para expor o partido. Obviamente que, quando isso acontece, o partido procura formas de se defender", afirma.

Benedito Daniel verificou que existem "vozes divergentes" no seio do seu PRSFoto: Borralho Ndomba/DW

PRS: Ideias antagónicas geram divisão

Outa formação política que vive o dilema das contestações internas é o Partido de Renovação Social (PRS), liderado por Benedito Daniel. Mas para Rui Malapo, secretário-geral do PRS, é normal a existência de grupos de reflexão e ideias diferentes, desde que contribuam para o desenvolvimento do partido.

"Há ideias antagónicas, há ideias diferentes. Mas o mais importante é que possam concorrer para o alcance, portanto, daquilo que é o plano do partido," considera.

Politólogo: "Falta aos partidos cultura democrática"

Para o politólogo Agostinho Sicato, o surgimento de grupos de pressão ou oposição às atuais lideranças está associado ao modelo de governação dos partidos políticos.

"Olham sempre para as oposições como inimizade. Dentro dos partidos, quem questionar a liderança é alvo a abater, é subversivo, é nocivo à organização. As lideranças reagem negativamente em todos os partidos, infelizmente, e hoje, isso está a destruir os partidos," avalia.

Quanto à falta de espaço para o debate de ideias, o secretário-geral do PRS, Rui Malopa, advoga que a sua formação política "é a favor" e privilegia a convergência de posições de cada um dos seus militantes.

Partidos carecem de cultura democrática a nível interno, afirma politólogo ouvido pela DW ÁfricaFoto: D. Vasconcelos/DW

"Eu considero que, aqueles que comungam essas ideais, diferentes das dos grupos que estão a dirigir, a única coisa que têm a fazer, é respeitar esta opinião. Esta diferença não pode constituir motivo para o afastamento daqueles que comungam ideias diferentes", diz.

Agostinho Sicato apela à necessidade de as lideranças políticas velarem pelo funcionamento das estruturas internas e da existência de mais diálogo aos vários níveis.

"Hoje, nós temos em Angola partidos políticos fraturados dentro de si próprios por problemas solúveis no âmbito da democracia e da organização interna, porque todos os partidos têm órgãos internos. Portanto, se esses órgãos funcionarem, todos os problemas podem ser debelados. Mas estes órgãos não funcionam," considera.

Demétrio Tulumba assegura que, pelo menos na UNITA, o grupo de militantes que contesta a estratégia de Adalberto Costa Júnior procura esgotar todos os mecanismos de diálogo interno.

"O que nós queremos, o que nós nos debatemos internamente, é que haja harmonia, haja o respeito pelos estatutos por parte da direção e haja a valorização dos quadros. Não se pode brincar com os quadros desta forma", afirma o ex-membro da Comissão Política e do Comité Permanente da UNITA, que faz parte do grupo de militantes que contestam a liderança de Adalberto Costa Júnior.

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