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Alemanha patina para cumprir suas metas de energia eólica

5 de fevereiro de 2024

Ambiciosa meta de até 2030 depender exclusivamente de fontes de eletricidade neutras para o clima se prova difícil na prática. Aposta equivocada no gás liquefeito agrava falta de turbinas e outros equipamentos offshore.

Praia com turbinas eólicas em alto-mar
Caminho da energia do vento offshore até a terra é longoFoto: David Ehl/DW

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, parece otimista de que a coalizão governamental – composta por seu Partido Social-Democrata (SPD), Os Verdes e o Liberal Democrático (FDP) – conseguirá avançar com a transição energética. Isso, apesar dos problemas orçamentários, dos obstáculos burocráticos crescentes e de um clima de desânimo dominante em amplas parcelas da sociedade alemã.

"Se conseguirmos alcançar aquilo a que nos propusemos – e estou confiante de que conseguiremos –, vamos romper com 200 anos de tradição industrial e prosperidade baseados em carvão, gás e petróleo", declarou num painel, em 29 de janeiro, na cidade de Potsdam.

Atualmente, cerca de 30% da eletricidade do país ainda é gerada queimando carvão e gás. Paralelamente, turbinas eólicas cobrem quase a metade da demanda nacional. Berlim se propõe a passar à eletricidade de fontes 100% neutras para o clima, principalmente estabelecendo grandes parques eólicos, ao largo das costas do Mar do Norte e o Mar Báltico.

Até o momento, cerca de 1.500 turbinas de até 300 metros de altura foram instaladas em alto-mar, onde se pode contar com vento forte e contínuo. Ao todo, elas produzem 8,5 gigawatts de eletricidade, e o plano é elevar essa capacidade a 30 gigawatts até 2030.

Para atingir tal meta, a Alemanha terá que quadruplicar seu volume da energia eólica em apenas seis anos – o que os representantes do setor advertem ser difícil. De acordo com a Federação Alemã de Energia Eólica (BWE), em 2023 apenas 27 novas turbinas foram conectadas à rede. Numa carta recente, o Departamento Federal de Navegação Marítima e Hidrografia (BSH) avisou que o estabelecimento de certas conexões do Mar do Norte poderá atrasar em até dois anos, devido a gargalos na construção de transformadores.

Stefan Thimm, presidente da Federação da Energia Eólica Offshore (BWO), antecipou que "se essa situação se materializar, ou resultar pior ainda, colocará em questão as metas de expansão acordadas e enviará um sinal de insegurança ao longo da cadeia de valor".

Chanceler Olaf Scholz e ministro Robert Habeck (ambos ao centro) inauguram terminal para gás natural liquefeito em Wilhelmshaven, dezembro de 2022. Iniciativa precipitada?Foto: Axel Heimken/AFP/Getty Images

Eólica, do offshore à aplicação na indústria

Produzir eletricidade em parques eólicos offshore é uma coisa, mas transportá-la até a terra firme em gigantescos cabos elétricos, é bem outra. O mesmo se aplica à construção de grandes transformadores para converter as correntes elétricas, de forma a poder transportar a energia do norte da Alemanha até seu coração industrial, no sul e no oeste. Especialistas calculam que, em breve, uma área equivalente a 270 campos de futebol terá que ser disponibilizada nos portos, a fim de expandir o setor eólico.

"Portos marítimos são polos-chave para a energia eólica offshore", explica Karina Würtz, diretora-gerente da fundação Offshore Windenergie. Eles são cruciais para a construção e desmonte dos parques eólicos, atuam como portos de serviço para operação e manutenção, além de locais de armazenamento e produção.

Ela frisa que as vizinhas Holanda e Dinamarca foram muito mais velozes e eficazes em construir sua infraestrutura eólica. "Enquanto portos como o holandês Eemshaven e o dinamarquês Esbjerg se concentraram fortemente no setor eólico offshore nos últimos anos, tomando grandes fatias do mercado de suas contrapartes alemãs, estas se voltaram de modo crescente para outros setores comerciais."

Como além da Alemanha muitos países também estão apostando cada vez mais na energia eólica, a competição no setor é acirrada, com as companhias de transformadores especializados, por exemplo, em alta demanda.

GNL consome recursos úteis à energia eólica

Por sua vez, a ONG ambientalista Greenpeace afirma que Berlim está apostando nas prioridades erradas, ao investir alto em terminais para gás natural liquefeito (GNL). Estes foram construídos depois que a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro de 2022, deu fim ao fluxo de gás natural russo para a Alemanha, forçando-a a importar o combustível fóssil de diversos outros países.

"Em vez de construir terminais de GNL completamente desnecessários, numa velocidade vertiginosa, Olaf Scholz deveria se concentrar em instalar parques eólicos, a fim de compensar os atrasos, o mais breve possível", comenta o especialista em energia e clima da Greenpeace Martin Kaiser.

Para ele, é inaceitável a falta de transformadores e as prioridades equivocadas do chefe de governo impedirem o país de cumprir suas metas de energia renovável. No entanto, Berlim carece de meios para expandir seu setor eólico offshore, e teria que contrair novas dívidas, o que é estritamente proibido por lei.

Haveria a possibilidade de criar um fundo especial para o setor, análogo ao que existe para as Forças Armadas. O verde Robert Habeck, ministro da Economia e também responsável pela pasta do clima, sugeriu, em 1º de fevereiro, no Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão) criar um fundo assim para expandir o setor energético e enfrentar outras questões. No entanto, sua sugestão foi sumariamente rejeitada pela oposição e pelo neoliberal FDP, que integra a coalizão de governo.

Energia renovável direto do mar

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